A ciência como resposta aos problemas climáticos

Na apresentação de encerramento do 9º Diálogo Brasil-Alemanha, foi destacado que a ciência já oferece boas soluções para as questões climáticas, mas as ações para colocá-las em prática padecem de coordenação a longo prazo.

“Se as previsões de chegarmos ao aumento global de 1.5 a 2 graus Celsius entre 2030 e 2050 se confirmarem, esse será um grande problema para as cidades. Elas acumularão a alta de 6 graus Celsius na temperatura quando comparado ao clima pré-industrial.” Com esse alerta, Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do programa de pesquisa USP Cidades Globais, iniciou sua apresentação “A Research Agenda for Cities of the Future”, finalizando o 9º Diálogo Brasil-Alemanha.

O cientista, que participou da elaboração do documento “Global Warning of 1.5 Degrees Celsius”, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ressaltou a importância de uma ação imediata para a redução de CO2. “Não há mais tempo para pesquisas básicas sobre o tema, precisamos agir imediatamente com os dados que já temos para mitigar ou adaptar as cidades contra as mudanças climáticas”, disse. Todavia, ressaltou Buckeridge, que também é membro do comitê científico do evento, a ciência deve prosseguir seus estudos sobre o tema, ajustando os trabalhos com o processo em andamento.

Para o coordenador do USP Cidades Globais, é importante que a agenda pública de enfrentamento dos efeitos climáticos seja baseada em método científico. “Os políticos e a população devem se apropriar das soluções da ciência na criação de políticas”.

No entanto, ponderou o cientista, o cenário político no Brasil, com trocas no poder Executivo e Legislativo a cada quatro anos, acaba imperando o progresso de ações de políticas mais sustentáveis. “Em muitos lugares, as pessoas não compreendem que os quatro anos são para o governo, mas não para o estado”, referindo-se a falta de continuidade de alguns bons programas.

Na visão Buckeridge, a chave para uma cidade é o equilíbrio entre gestão, regulação e produção de conhecimento. “Se os processos forem bem ajustados e cientificamente embasados, o grau de sustentabilidade pode aumentar”, esclareceu.

Sustentabilidade do urbsistema

De acordo com estudos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), um terço de todos os alimentos produzidos no mundo vai para o lixo. O desperdício começa já no campo durante a colheita, depois continua no transporte do alimento e, posteriormente, nas nossas residências. “No final, tudo isto contribui para uma diminuição da sustentabilidade urbana”, afirmou Buckeridge.

O cientista explicou que a cidade funciona como um ecossistema, algo que ele alcunhou como “urbsistema”. O coordenador do USP Cidades Globais lembrou que no urbsistema são processados materiais que vêm de fora da cidade, como alimentos, produtos importados e matérias-primas. “Todo este processo produz resíduos. O grau de sustentabilidade do urbsistema é inversamente proporcional às quantidades de água e energia usados por ele para processar esses materiais”, analisou.

Neste sentido, defendeu Buckeridge, é preciso trabalhar uma transformação cultural para que alguns hábitos mais sustentáveis sejam incorporados, tais como evitar o desperdício de comida e água, usar transportes e combustíveis mais limpos, investir em materiais de construções mais sustentáveis, entre outros. “Precisamos usar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU como uma espécie de guia para o futuro”, conclui.