Natal será “cidade protótipo” para estudos de mudanças climáticas

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Com o tema “Clima e Meio Ambiente no Contexto Urbano: Um Desafio de Governança Multinível”, o Simpósio Klimapolis aconteceu nos dias 11 e 12 de abril em Natal. Com pesquisadores do Brasil e da Alemanha, a iniciativa discutiu os impactos das mudanças climáticas, poluição do ar, financiamento de pesquisas, dentre outros temas. Por meio do projeto, Natal será a “cidade protótipo” para investigar os efeitos das mudanças climáticas em outros municípios e regiões.

“Ela não é a maior cidade do Nordeste, mas é uma cidade bem representativa para as outras cidades litorâneas, então se a gente começa a fazer estudos aqui já nos vai dar uma boa ideia de que talvez os motivos e as soluções dos problemas são parecidos aos que podem ser implementados em outras cidades”, aponta a professora Judith Hoelzemann, do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas da UFRN.

Segundo a docente, os eventos climáticos extremos acontecerão cada vez mais com maior frequência.

“Por exemplo, chuvas muito fortes em muito pouco tempo, e o sistema de saneamento das cidades não está preparado para isso. Então já temos em várias cidades problemas com inundações e isso atravessa o país inteiro. Maranhão teve agora problemas severos de inundações, em que casas inteiras ficaram até o telhado inteiro por baixo de água”, explica a docente.

“Em São Paulo acontece regularmente, então não é um problema só aqui da região, no Brasil inteiro as áreas urbanas sofrem com isso, e se no futuro as mudanças climáticas levarem a uma frequência mais alta desse tipo de evento, é um problema para a população”, continua.

Na capital potiguar, hoje, dois temas ambientais aparecem com frequência: o Plano Diretor sancionado em 2022 e a engorda da Praia de Ponta Negra.

Engorda 

“A erosão é um problema de quase todo o litoral brasileiro e as outras cidades do Nordeste que são grandes cidades que são litorâneas também. Então de fato, a gente tem especialistas locais que já trabalham há muitos anos nessa temática do avanço do mar, que é um efeito realmente tanto das mudanças climáticas e provavelmente ainda entram questões ambientais, e o conjunto todo leva a esse avanço do mar. É uma força maior, a gente não consegue parar essas mudanças climáticas de um dia para outro e vai ter que procurar soluções”, comenta Hoelzemann.

Venerando Amaro, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN, concorda e vê o litoral brasileiro num “avançado processo erosivo”.

“A gente tem diminuído o volume de areia em todas as praias, então isso já foi apontado há muitos anos atrás em Ponta Negra e a solução encontrada foi essa da engorda, porque outras soluções estavam esbarrando obviamente em valores, e também na questão que as discussões envolveram talvez anos para que, do ponto de vista legal, isso tudo se resolvesse”, explica.

No processo de Ponta Negra, o professor vê prós e contras.

“A gente sempre tem as coisas que são contrárias completamente porque vão causar algum tipo de efeito deletério, e aquelas que são positivas. Então toda obra de engenharia tá nessa situação e a engorda é mais uma. A engorda tem a ideia de devolver para Natal a praia de Ponta Negra com areia. Agora os efeitos ambientais negativos, eles vão existir obviamente”, diz.

Plano Diretor 

De acordo com Amaro, o Plano Diretor perpassou algumas das discussões do simpósio. Entre quinta (13/04) e sexta (14/04), o simpósio continua, mas desta vez para a reunião de síntese do Projeto Klimapolis. Numa mesa interna, o Plano será o tema principal.

“É uma oportunidade para a gente fazer alguns apontamentos de questões que não ficaram tão claras para nós e que têm suscitado o debate. A questão da verticalização, a questão da ocupação da orla por prédios”, afirma.

“Teve uma mesa de debates em que o Plano Diretor passou ali meio transversal na discussão, mas todo mundo trazendo preocupações importantes sobre a questão do desmatamento, da questão da ocupação de áreas muito próximas às ZPA [Zonas de Proteção Ambiental].”

Nesta quinta (13/04), a agência Saiba Mais mostrou que pelo menos três projetos para a construção de um residencial horizontal, além de dois hotéis, que também podem ser utilizados na modalidade de flats, estão sendo analisados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). As construções só serão possíveis por causa da flexibilização das regras do novo Plano.

O evento 

No simpósio participaram pesquisadores das áreas de ciências climáticas, arquitetura e urbanismo, ciências sociais, ambientais e da vida, além de representantes de órgãos públicos brasileiros para discussões interdisciplinares sobre os desafios da governança urbana no contexto das mudanças climáticas.

O encontro, que continua agora de modo interno, é organizado pelo Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas (DCAC/UFRN) e pelo Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (DCAM/UFRN), sob coordenação de Hoelzemann e Amaro. A organização ainda conta com o gestor do projeto alemão-brasileiro Klimapolis, do Instituto Max Planck de Meteorologia de Hamburgo, Alemanha, Diego Arruda.

O evento é financiado pelo Ministério Alemão de Educação e Ciência (BMBF), o Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH), a Universidade MacKenzie e o projeto Cliamb (CNPq), com apoio da UFRN.

Na cerimônia de abertura, foi lançado o recém-aprovado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Klimapolis, que recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

As gravações, com tradução simultânea português-inglês e transmissão online nas duas línguas. estão disponíveis no canal de YouTube do Klimapolis. Os debates podem ser acompanhados clicando AQUI.

(*) Texto originalmente publicado no portal Saiba Mais e reproduzido com licença Creative Commons.