Qual é a responsabilidade dos governos e da economia local nos eventos climáticos das cidades?

© Artiom Vallat/Unsplash.

A pergunta guia o estudo coordenado pela professora Leila Costa, da Unicamp, sobre políticas brasileiras de adaptação e redução de poluentes previstas no Acordo de Paris.

Em dezembro de 2015, governantes de diversos países assinavam o Acordo de Paris. O documento destaca o comprometimento de 195 nações, incluindo o Brasil, em mitigar as causas das alterações climáticas, prevendo regras para emissão de gases poluentes. Cinco anos após, observamos pouco avanço desse acordo no território nacional. Resultado: aumento do nível do mar, secas, queimadas, ondas de calor e enchentes em áreas urbanas.  

Para a professora Leila da Costa Ferreira, da Unicamp, a complexidade do tema explica, em parte, a lentidão na tomada de decisão pelos governantes. A acadêmica, representante da UNICAMP na Worldwide Universities Network (WUN) Global Challenges – Adapting to Climate Change, lidera um grupo de pesquisadores que busca descobrir quem são os principais atores políticos, econômicos e sociais que influenciam ações relacionadas à adaptação e mitigação previstas no Acordo de Paris a nível local.

“A principal questão científica desta pesquisa é: como o Brasil e o estado de São Paulo respondem ao desafio das mudanças climáticas em termos de estratégias políticas e arranjos institucionais?”, destaca a professora.

Na pesquisa “O desafio da governança das mudanças climáticas no Brasil: uma análise multinível e multiatores (o caso do estado de São Paulo)”, Ferreira ressalta também que tem sido difícil para governos em seus diferentes níveis encarar o assunto com a devida seriedade, dado o caráter abstrato e incerto de muitas dessas mudanças. Isso sem contar, relata a professora, as transformações necessárias em padrões de produção, consumo e comportamento o enfrentamento das mudanças climáticas.

Apoiado pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, o estudo analisou políticas climáticas em cinco cidades do estado de São Paulo: Campinas, São José dos Campos, Santos, Sorocaba e Ribeirão Preto.

Riscos sociais das mudanças climáticas
Na visão da professora, a mudança climática global também está associada a significativos riscos para a sociedade e a natureza. “Estão previstas frequências maiores de ondas de calor em áreas urbanas, piora da qualidade do ar e aumento de áreas de risco decorrentes de chuvas mais intensas e frequentes em regiões tropicais que poderão levar a escorregamentos de encostas e alagamentos.”

A professora explica que esses eventos climáticos extremos poderão ainda afetar a disponibilidade de água potável, a distribuição de energia elétrica e os sistemas de transporte das cidades. “Neste contexto, governos locais são fundamentais para implementar políticas públicas relativas às mudanças climáticas”, frisa Ferreira.  

Nessa discussão, destaca a acadêmica, cidades e centros urbanos aparecem como espaços fundamentais para a compreensão do problema. “Grandes centros urbanos são importantes emissores de poluentes e motores das economias nacionais e mundial. Assim, é praticamente impossível conceber qualquer resposta mitigadora ou ação adaptativa sem enfrentar a discussão sobre cidades, urbanização e governança local”, finaliza.

DWIH-FAPESP Online Talk on Cities and Climate
Leila da Costa Ferreira apresentará o estudo “O desafio da governança das mudanças climáticas no Brasil: uma análise multinível e multiatores (o caso do estado de São Paulo)” durante o seminário DWIH-FAPESP Online Talk on Cities and Climate. O evento, promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH) São Paulo e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), será realizado no dia 19/11, das 10h às 11h30.

O seminário – em inglês, mas com tradução simultânea para o português – reunirá cientistas do Brasil e da Alemanha para discutir a relação entre mudanças climáticas e cidades do ponto de vista social, ambiental e econômico.