Do laboratório à startup – com muita psicologia

Casos de constituição de empresas bem-sucedidas na área das ciências são raros na Alemanha. Pela primeira vez, um projeto de pesquisa analisou quais são os fatores psicológicos que influenciam cientistas no processo de criação de uma empresa. 

Os resultados mostram que, para eles, é difícil desenvolver uma forma de pensar empresarial a partir do pensar científico. Também, muitas equipes de fundadores de empresas não conseguem aproveitar, com claros processos de trabalho, a expertise de seus integrantes.  Formatos lúdicos como Makeathons e coachings comportamentais podem ajudar tanto as equipes das startups quanto os seus consultores.

Cientistas desenvolvem muitas ideias e tecnologias, as quais tem potencial para novos produtos e serviços. Isso os tornaria candidatos ideais para a fundação de uma startup. No entanto, ainda são comparativamente poucas na Alemanha, as empresas criadas a partir de ideias com origem nas ciências.

Por essa razão, uma equipe de pesquisadores da Universidade Técnica de Munique (TUM), integrada por especialistas das áreas de empreendedorismo, psicologia, antropologia e economia estudou, a partir de quatro diferentes perspectivas e métodos, a psicologia em processos de criação de empresas.  Em um primeiro grupo, foram entrevistados cerca de 280 empreendedores em toda a Alemanha ao longo de vários meses, visando conhecer a influência de fatores psicológicos como motivação, estresse e frustração, estrutura de personalidade e confiança no sucesso. Em outro grupo, cerca de 50 equipes de empreendedores foram analisadas por vídeo em ambientes experimentais para saber como trocam informações e tomam decisões.

Além disso, os pesquisadores observaram e entrevistaram cerca de 200 participantes de quatro Makeathons da TUM. Nos Makeathons, as equipes desenvolvem uma ideia e um produto durante um período que varia de três dias a duas semanas, no que são acompanhados por Coaches. Essa posição foi, na realidade, ocupada um pesquisador da TUM, que recorreu a um conhecido método da antropologia, no qual o pesquisador faz parte de seu objeto de pesquisa ao mesmo tempo em que o observa. Finalmente, a equipe de pesquisadores entrevistou, durante nove meses, doze grupos de empreendedores com diferentes composições para uma análise detalhada da cooperação entre equipes acadêmicas no processo de criação de empresas.

Lacuna entre a meticulosidade e o pragmatismo

Os estudos interdisciplinares mostram fatores psicológicos que inibem os processos de criação das startups, tanto em nível individual quanto em nível organizacional e de equipe.

Decisivo é que, para fundar uma empresa, os cientistas precisam ultrapassar a lacuna que existe entre a sua meticulosa forma de pensar e a forma pragmática de avançar dos empreendedores. Para muitos, isso é bastante penoso. Os cientistas priorizam o desenvolvimento de sua tecnologia em detrimento do atendimento às necessidades dos clientes.

Dificuldades também foram observadas no trabalho em grupo. Equipes de empreendedores bem-sucedidos conseguem unir conhecimentos oriundos de diferentes disciplinas com a ajuda de métodos de trabalho claros e formas de intercâmbio pré-definidas. Mas, somente um terço das equipes estudadas conseguiu usar de maneira abrangente a experiência individual de cada um de seus membros. 

Também foram constatadas necessidade de melhoria no suporte às equipes. Nas universidades, muitos consultores de startups apoiam, simultaneamente, mais de 20 equipes. Ao lado das questões econômicas, o tempo disponível para observar a dinâmica psicológica do grupo fica limitado. É frequente durante as reuniões de consultoria, que as equipes relatem, mesmo inconscientemente, os progressos alcançados de forma muito positiva.

Iniciar com formatos lúdicos

Mas o projeto também mostra fatores psicológicos que fortalecem os processos de criação de startups, a partir dos quais os pesquisadores desenvolveram recomendações para o seu fomento nas universidades:

As universidades têm melhores condições de iniciar o treinamento em empreendedorismo de forma lúdica. Formatos interdisciplinares como os Makeathons não só transmitem conhecimento, mas acima de tudo, diversão no empreendedorismo. O caráter lúdico, sem pressão econômica, ajuda a desenvolver habilidades empreendedoras como bom planejamento, lidar com dificuldades e orientação para a utilidade. Como resultado dessa experiência de aprendizagem, muitos participantes identificam-se fortemente com o papel de empreendedor.

O coaching ajuda a traduzir a dupla função de pesquisador e empreendedor e a desenvolver uma dinâmica construtiva na equipe. O coaching deveria sensibilizar rapidamente a equipe em relação a desafios típicos como autogestão, gerenciamento de tempo, liderança ou comunicação harmoniosa e disponibilizar métodos para um trabalho conjunto profissional.

“As equipes que desejam seriamente avançar na sua existência, precisam de um apoio individual. Além da consultoria relacionada a assuntos econômicos, é aconselhável um coaching focado nas personalidades e no grupo. Isso ajuda a mediar conflitos e divergências entre os seus membros e a construir competências para que o fracasso na equipe não leve ao fracasso da empresa “, diz Nicola Breugst, Professora de Comportamento Empreendedor da TUM, que, juntamente com o Prof. Holger Patzelt , da Cátedra de Empreendedorismo, dirigiu o projeto.

Moderar impactos psicológicos na equipe

As universidades deveriam treinar psicologicamente seus consultores para que reconheçam e moderem os impactos psicológicos e suas consequências nas equipes das startups. Dessa forma, eles podem identificar, com mais facilidade, as contradições na autorrepresentação e agir a tempo. Aconselha-se ainda, que os consultores estejam, fisicamente, o mais próximo possível das startups e participem de reuniões com potenciais parceiros, clientes e investidores.

A equipe da pesquisa da TUM recomenda, além disso, que o empreendedorismo seja apoiado pela direção da universidade, que existam modelos visíveis de criação de empresas e liberdade para ideias empreendedoras. A cooperação interdisciplinar, na qual são reunidas diferentes perspectivas sobre um tema, e o intercâmbio contínuo com o meio empresarial também são apontados como fatores de sucesso.

Mais informações sobre os artigos e o contato dos autores podem ser encontrados no site da TUM.

Fonte: TUM.